domingo, 31 de outubro de 2010

Consequências do comércio à escala mundial


A circulação de produtos e as suas repercurssões no quotidiano:
Nas referidas rotas circulavam vários produtos:


  • da Ásia vinham pedras preciosas, sedas, porcelanas e especiarias;

  • da África vinham o ouro, o marfim, a malagueta e os escravos;

  • da América chegavam metais preciosos, açúcar e tabaco;

  • da Europa saíam os produtos manufacturados, cereais, cobre e bugigangas.

A grande quantidade de ouro e prata chegada à Europa provocou o aumento da cunhagem e da circulação da moeda; o aumento demográfico que se verificou na Europa levou a um crescimento na procura. A junção destes dois factores levou, por sua vez, a uma subida generalizada dos preços.


Os novos produtos importados provocaram mudanças na vida das populações:




  • ao nível da alimentação, foram introduzidos novos produtos como o milho, o feijão, a batata, o tomate, o café, o cacau, e generalizou-se o uso do açúcar, das especiarias e do chá.


  • Ao nível do vestuário, foram divulgados novos tecidos.


  • Ao nível dos costumes, passaram a ser consumidos produtos como o tabaco e as drogas farmacêuticas.


  • Ao nível dda decoração, modificaram-se os gostos europeus, com a introdução das porcelanas, móveis e adornos orientais.

O Comércio à escala mundial


Até ao início do século XVI, os contactos comerciais entre os vários continentes faziam-se através da rota do Levante e das rotas caravaneiras do Norte de África, controladas pelos Muçulmanos. Com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, os Portugueses abriram caminho para o Oriente através da rota do Cabo, que se prolongava até ao Japão pelo Extremo Oriente.

A descoberta da América pelos Espanhóis permitiu a chegada à Europa de grandes quantidades de metasi preciosos oriundos daquele continente e também o acesso a Espanha aos produtos orientais, obitidos através da rota de Manila.

Todas estas rotas puseram em contacto os vários continentes e os seus respectivos produtos, dando início ao processo de mundialização da economia.

A Expansão dos dois países ibéricos deu origem ao aparecimento de dois importantes centros de comércio: Lisboa e Sevilha. A partir destas duas cidades, os produtos eram enviados para Anuérpia, na Flandres, de onde eram distribuidos para toda a Europa.

Eram, pois, os países do Norte da Europa que lucravam mais com este comércio, porque Portugal e Espanha limitavam-se a transportar os produtos coloniais para a Europa (política de transporte). Os países ibéricos praticaram o comércio colonial em regime de monopólio régio, ou seja, o comércio estava dependente do rei, enquanto que no Norte da Europa se assistia ao dinamismo da burguesia.

Os Portugueses na América


Os Portugueses começaram por explorar no Brasil as suas riquezas naturais: aves exóticas e pau-brasil. O território só foi realmente colonizado no reinado de D. João III, quando o comércio com o Oriente entrou em decadência. O Brasil foi dividido em 15 capitânias, estando à frente de cada uma delas um capitão-donatário, com amplos poderes jurídicos e administrativos. Devido aos conflitos existentes entre as diferentes capitanias e aos ataques de piratas, o rei D. João III nomeou um governador geral para todo o território. A partir de finais do século XVI, a economia brasileira assenta na produção e comercialização do acúcar.

Os contactos com os povos locais foram marcados pela presença dos Jesuítas, que se dedicaram à evangelização, instrução e protecção dos povos indígenas.

A colonização portuguesa e espanhola nos territórios da América Central e do Sul não foi apenas uma exploração económica: traduziu-se também na transmissão da língua, da religião e das técnicas.

Os Espanhóis na América


Os Espanhóis estabeleceram-se na América Central e do Sul, onde encontraram povos como os Astecas, os Maias e os Incas. Estes povos estavam organizados política e socialmente praticando uma agricultura intensiva, baseada em produtos como o milho, a batata e a mandioca. Com bastantes conhecimentos de Matemática e da Astronomia, desconheciam, no entanto, a roda e a metalurgia do ferro. Estas civilizações foram facilmente dominadas pelos Espanhóis, que utilizaram os povos conquistados como mão-de-obra escrava nas minas de prata em que aquelas regiões eram ricas.

A Penetração portuguesa no mundo asiático




No Oriente, os Portugueses encontraram povos com civilizações e culturas bastante desenvolvidas como Hindus, Chineses e Japoneses.


A descoberta do caminho marítimo para a Índia abriu uma nova rota, a rota do Cabo, através da qual os Portugueses traziam para a Europa as especiarias orientais. O comércio das especiarias nunca foi completamente controlado pelo nosso país, devido à concorrência de Turcos e Muçulmanos, que faziam chegar os produtos orientais à Europa através do Golfo Pérsico e Mar Vermelho. Para enfrentar este e outros problemas, foram nomeados vice-reis para a Índia.






  • D. Francisco de Almeida foi o primeiro vice-rei da Índia; entendia que o domínio português naquela região deveria ser feito através de uma poderosa presença naval, que controlasse as principais rotas comerciais;




  • D. Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei da Índia, optou por uma política de domínio territorial, conquistando as cidades de Goa, Ormuz e Malaca, portos estratégicos no comércio do Oriente.


Os Portugueses expandiram o seu domínio por todo o Oriente, fundando feitorias e missões. A partir dos contactos ai estabelecidos, tentou influenciar-se os povos locais, no sentido da transmissão da cultura europeia. No entanto, como já foi referido, as civilizações dos povos orientais tinham raízes culturais muito profundas, o que fez com que a cultura de que os Portugueses eram portadores não fosse bem aceite, apesar de se verificar alguma aculturação no domínio das técnicas de construção e produção. Destes contactos, resultou para os Portugueses um enriquecimento da sua cultura nos seguintes domínios: literatura, ciências, artes decorativas e hábitos alimentares.

Os Portugueses na África Negra


Quando os Portugueses chegaram a África, no século XV, encontraram povos com diferentes níveis de desenvolvimento e diferentes culturas. A maioria dos povos africanos vivia em tribos seminómadas, praticando uma agricultura rudimentar e dedicando-se à caça, à pesca e à pastorícia. Havia, no entanto, alguns reinos organizados política e economicamente.

A presença portuguesa na África Negra limitou-se praticamente aos contactos comerciais junto à costa, onde foram estabelecidas feitorias para o comércio do ouro, escravos, marfim e malagueta. Para além destes contactos, os Portugueses efectuaram tentativas de missionação destes povos; apesar de tudo, a religião cristã teve fraca implantação nesta região. A influência portuguesa pode verificar-se ao nível das técnicas e da língua (aculturação).

A consequência mais importante da presença portuguesa em África foi o desenvolvimento do tráfico de escravos, que se prolongou até ao século XIX.

domingo, 17 de outubro de 2010

A chegada à Índia e ao Brasil

Em 1497, no reinado de D. Manuel I, uma armada capitaneada por Vasco da Gama saiu de Lisboa com destino à Índia, onde chegou em 1498. Estavam pois atingidos os objectivos delineados por D. João II.

No ano de 1500, também no reinado de D. Manuel I, uma armada capitaneada por Pedro Álvares Cabral saiu de Lisboa em direcção à Índia. Seguindo a rota tradicional até Cabo Verde, a armada rumou depois para sudoeste e encontrou terra, à qual foi dado o nome de terra de Vera Cruz (só mais tarde adoptou o nome Brasil).

Alguns historiadores defendem que a descoberta do Brasil não foi por acaso e que D. João II já tinha conhecimento de terras naquela latitude (negociações do Tratado de Tordesilhas e rota de Vasco da Gama, entre outros motivos).

Esta ideia carece no entanto de provas documentais, pelo que se considera que o Brasil foi descoberto em 1500, por Pedro Álvares Cabral. Com o achamento do Brasil surge também uma nova visão do «outro», que era totalmente desconhecido até esse momento.


A rivalidade luso-castelhana


Entretanto, também a Espanha se tinha lançado num projecto de expansão marítima. Os Reis Católicos Isabel e Fernando aceitaram a proposta apresentada pelo navegador genovês Cristovão Colombo, que visava atingir a Índia navegando para ocidente.

Em 1492, este navegador chegou ao arquipélago das Antilhas, na América Central, julgando ter chegado à Índia. A quem pertenceriam então os novos territórios descobertos? Invocando o Tratado de Alcáçovas, D. João II entendia que pertenciam a Portugal, enquanto os reis Católicos defendiam que pertenciam a Espanha, pois tinham sido descobertos por um navegador ao seu serviço.

Para resolver este diferendo, o Papa Alexandre VI apresentou uma proposta, na qual seria dividido em dois hemisférios, segundo um meridiano traçado a 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde; D. João II apresentou uma nova proposta, que propunha a passagem do meridiano a 370 léguas a oeste daquele arquipélago. Esta nova proposta foi aceite pelos Reis Católicos e ratificada pelo Papa. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, que definia a posse das terras descobertas ou a descobrir por Portugal e Espanha: a ocidente do meridiano já referido, as terras pertenciam a Espanha, a oriente pertenciam a Portugal.

A política expansionista de D. João II

Em 1475, o príncipe D. João, filho de D. Afonso V, assume a direcção da política expansionista. Em 1481, com a sua subida ao trono com o título de D. João II, são nítidos os seguintes objectivos:
  • Fortalecer o domínio português no Atlântico;
  • Fazer a exploração da costa africana;
  • Procurar a passagem do Atlântico para o Índico, com vista a atingir a Índia.

Foi dentro desta nova orientação que se realizaram as viagens de Diogo Cão (1482-83, Foz do rio Zaire) e de Bartolomeu Dias (1487-88, Cabo das Tormentas). Com esta última foi confirmada a existência da tão procurada passagem do Atlântico para o Índico. Era, pois, possível chegar à origem das especiairias por via marítima. Enquadra-se dentro desta política as viagens terrestres efectuadas por Pêro da Covilhã e Afonso Paiva, procurando recolher informações sobre a ìndia e o Índico.

Exploração do litoral africano


Enquanto se levava a cabo a colonização dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, os Portugueses lançaram-se na exploração da costa ocidental africana.

Apesar de algumas dificuldades encontradas devido aos ventos e correntes marítimas, em 1434, Gil Eanes ultrapassa o Cabo Bojador, abrindo assim o caminho de acesso ao ouro africano. Em 1460, a Expansão já tinha chegado à Serra Leoa.

A partir desta data, na qual ocorreu a morte do Infante D. Henrique, o rei Afonso V decide arrendar o direito de exploração e comércio na costa africana ao mercador de Lisboa Fernão Gomes, pelo prazo de cinco anos. No contrato estebelecido entre ambos ficava definido que aquele mercador pagaria uma renda em dinheiro ao rei, comprometendo-se também a descobrir por ano 100 léguas da costa africana. Em 1475, ano de termo do contrato, a costa africana estava explorada até ao Cabo de Santa Catarina.

Ainda durante o reinado de D. Afonso V, foram efectuadas as conquistas de várias cidades do Norte de África: Alcácer-Ceguer, Arzila e Tânger.

Descoberta e exploração dos Arquipélagos da Madeira e dos Açores

No projecto exapnsionista português, o Infante D. Henrique teve um papel determinante. Senhor de vastos territórios e Mestre da Ordem de Cristo, este quinto filho de D. João I orientou e custeou as viagens de descoberta até à data da sua morte, em 1460.
As primeiras viagens de descoberta resultaram no reconhecimento dos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
  • Descoberta e colonização das ilhas da Madeira e Porto Santo: 1418-1419, João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo, navegadores ao serviço do Infante D. Henrique, efecturam o reconhecimento destas ilhas, desabitadas até então. O seu povoamento e colonização fez-se pelos sistema de capitanias, entregues aos três descobridores, que foram nomeados capitães-donatários, com amplos poderes admnistrativos, judiciais e militares. Do ponto de vista económico, aproveitando-se o clima propício e a abundância de água, foram introduzidos os cereais e a cana-de-açúcar, tendo esta última sido o grande produto de exportação para a metrópole.
  • Descoberta e colonização do arquipélago dos Açores: entre 1427-1452 foi feito o reconhecimento oficial do arquipélago dos Açores, por Diogo Silves e Diogo de Teive. A colonização do arquipélago inicia-se com a nomeação de Gonçalo Velho Cabral para capitão-donatário das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel. O povoamento fez-se com colonos vindos da metrópole e da Flandres. A fertilidade do solo e o clima húmido permitiram a introdução de cereais, plantas tintureiras. Desenvolveram-se depois a pecuária e a produção de lacticínios.

O início da Expansão-a conquista de Ceuta


A Expansão teve início no reinado de D. João I, com a conquista de Ceuta, em 1415. As razões que levaram à conquista desta cidade no Norte de África foram as seguintes:



  • Ceuta estava localizada no estreito de Gibraltar, constituindo asim um importante ponto estratégico de controlo de navegação entre o Mediterrâneo e o Atlântico;


  • A ceuta chegavam especiarias, ouro e escravos, sendo, portanto, um importante ponto de comércio;


  • A zona de Ceuta era uma importância zona cerealífera;


  • Ceuta era uma importante base da pirataria muçulmana, servindo de ponto de partida para os ataques efectuados a barcos e regiões cristãs.

A conquista de Ceuta traduziu-se por uma importante vitória militar. Do ponto de vista económico, os resultados foram ruinosos, pois o comércio que chegava a Ceuta foi desviado para\ outros pontos. As várias batalhas travadas levaram à destruição dos ricos campos de cereais que rodeavam Ceuta, impedindo o seu cultivo. A cidade de Ceuta ficou assim isolada, sendo durante muitos anos, a única cidade cristã no Norte de África.


Factores sociais, políticos e económicos no arranque da Expansão Portuguesa


Para além das condições enumeradas anteriormente, existiam interesses sociais e políticos:


  • o clero pretendia alargar a sua área de influência religiosa e aumentar as suas rendas;

  • a nobreza desejava novos cargos e novos rendimentos;


  • a burguesia mostrava-se interessada na procura de novos centros de comércio e queria comprar produtos que escasseavam tanto em Portugal como na restante Europa;


  • o povo ansiava por melhorar as suas condições de vida;


  • D. João I, aclamado nas Cortes de Coimbra, necessitava de aumentar o seu prestígio e autoridade dentro e fora do país.

Como podes verificar, a Expansão Portuguesa era do interesse de todos os grupos sociais e da própria Coroa.


Devido aos efeitos da crise do século XIV, que se faziam sentir, o nosso país atravessava dificuldades económicas e financeiras:




  • Falta de cereais, mão-de-obra e matérias-primas;


  • Escassez de ouro para cunhagem de moeda.

Condições da prioridade portuguesa no processo de Expansão Europeia

Portugal foi o primeiro país a encontrar uma solução para a crise que a Europa atravessava. De que condições dispunha, então, o nosso país?
  • Condições políticas: estabilidade política e uma dinastia desejosa de se afirmar internacionalmente;
  • Condições geográficas: Portugal, situado no extremo sudoeste da Europa, dispunha de uma longa costa e de bons portos marítimos. A pesca e o comércio tinham familiarizado a população do litoral com o mar.
  • Condições técnicas e científicas: os Portugueses tinham conhecimento e prática das técnicas de navegação e ciência náutica, dominando a técnica de bolinar (navegar com ventos contrários) possibilitada pelo uso da vela triangular e do leme fixo à popa (leme de cadastre), aplicados na caravela, barco fundamental nas viagens de descoberta. Quando à ciência náutica, é de realçar o aperfeiçoamento dos instrumentos de orientação, como a bussola, o quadrante, o astrolábio e a balestilha, que permitiam a navegação astronómica através do cálculo da latitude de um lugar; foram também elaborados portulanos, mapas com registo dos portos e linhas de rumo.

O Mundo antes das Descobertas


No início do século XV, os Europeus tinham um conhecimento muito reduzido sobre o mundo, centrando a sua visão à volta do Mediterrâneo. Ignorando o continente americano, tinham dos restantes uma visão deficiente. Os mapas da época mostravam que o espaço geográfico conhecido se limitava à Europa, ao Norte de África e a uma Ásia de dimensões e contornos imprecisos; o índico era representado como um grande mar fechado e o Atlântico como um mar de trevas povoado de monstros. Estas e outras lendas continuavam , desde há muitos séculos a ser tidas como certas.

Após a crise do século XIV, a Europa tinha necessidade de encontrar novas áreas comerciais, aprofundando os contactos anteriormente estabelecidos entre mercadores italianos e muçulmanos através da rota do Levante, pela qual chegavam à Europa as especiairias, as sedas e as porcelanas do Oriente.